sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Rapidinha

............Os dedos deslizavam na nuca enquanto a língua se entrelaçava a uma outra dentro das bocas. Duas mãos se empenhavam com movimentos circulares nas duas concentrações de carnes macias das nádegas. Os lábios molhavam o pescoço e de outro lado os dentes mordiscavam o pé da orelha. Quatro mãos trabalhavam apressadamente, duas concentrando em abrir um zíper e as outras em se livrar de uma outra peça. Um movimento frenético balança os quadris que agora eram uma coisa só. Num crescimento acelerado, chega ao seu ápice, para logo parar.
............Apressados, se ajeitaram, antes que algum dos celibatários os surpreendesse.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

O celular

Algo ao fundo toca insistentemente, é um toque abafado e longe, Rebeca que não está em um bom dia, pois seu carro estragou e ela foi obrigada a se locomover de coletivo, se irrita ainda mais de não atenderem logo ao chamado. O som para e dá um descanso de menos de 3 segundos para começar novamente seu concerto. Ela dá uma mordida nos lábios e ajeita a lateral da calça, nisso sente algo vibrando no espaço proveniente entre os dois bancos. Pega o celular e na tela brilhante lê-se “amor”. Resolve atender.
- Oi?
Silêncio.
- Oieee!?!
- Eu sabia!!! Ah, eu sabia! Quem é você sua vagabunda?! E cadê aquele enrustido do Gustavo?! Ele não é homem o suficiente para me dar um fora, não é? Teve que colocar a nova putinha dele para fazer isso, sua cadela, escuta aqui...
Rebeca, atônita, escuta mais uma enxurrada de insultos e não tem tempo de explicar que simplesmente achou o celular, pois uma onda de gargalhadas saíram sem controle de sua garganta, ela tenta sufocar, mas quando percebe que isso deixou a mulher mais histérica do que já estava, as gargalhadas vieram com mais força. Rebeca entre risos e nervos, tentava se controlar, ela realmente queria falar que aquilo era um terrível engano, mas suas cordas vocais não respondiam ao seu pensamento. Desligou abruptamente. A criança ao seu lado, estava de boca aberta enquanto o sorvete escorria. Rebeca com testa suada, aperta as mãos trêmulas e pensa que causou um desastre, sente sua barriga gelar e todo peso da consciência culpada na sua nuca, sabia que nada foi proposital, ela não se controlou, somente isso.
Enquanto se prepara pra descer, pensa no que deveria fazer, o celular volta a tocar, ela nem precisa olhar para saber quem é. Desce do ônibus e leva um tropeção no meio fio deixando o celular cair, se levanta aos xingamentos e maldiz o mundo por sujar seus joelhos, quando olha para o lado um trombadinha passa e ela vê somente o vulto de sua mão pegando o celular.
Ela quer berrar e tem o ímpeto de correr atrás dele, mas no próximo segundo desiste achando que esse ato talvez seja a providência divina a livrando de mais um problema.
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Rogerinho era um moleque safado e sem vergonha, que tinha tudo que queria dos pais, mas era vagabundo por natureza e fazia o que a flor de seus 11 anos lhe permitia. Fumava e bebia o quanto quisesse, sem falar em pequenos furtos que cometia sempre. Aquela manhã foi lucrativa, uma perua deixou cair um celular novinho e ele foi esperto o suficiente para pegar a tempo, agora era repassar.
Enquanto se dirigia a uma rua central, o celular toca. Ele geralmente retiraria o chip, mas ao ler “amor” na tela, com um coraçãozinho muito do fresco ao lado, não se contém e resolve passar um trote.
- E aí?
- O que? Mas cadê a ... quem é você moleque?
- Ih, qualé tia, tá querendo que?
- Eu quero falar com o Gustavo. Agora!
- Aqui não tem nenhum Gustavo não senhora, esse celular é do meu pai, deixou comigo! – Rogerinho, está contendo-se para não rir, se divertindo imensamente de fazer a mulher acreditar na sua loucura de ligar para número errado.
- Pa... pai!!!!!!
A mulher do outro lado da linha desaba em choro. Rogerinho fica sério e resolve desligar. “Bicha louca”. Chegando ao seu ponto comercial, ele começa mais um dia de trabalho, oferecendo sua mercadoria aos transeuntes apressados.
Um homem passa com cara de preocupado e se detém a alguns metros de Rogerinho, volta, Rogerinho se apressa.
- Só R$ 50 reais, chefia!
O homem olha incrédulo para o aparelho e tira a nota da carteira.
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Enquanto caminha feliz pela praça, sem acreditar na sua sorte, o homem sente o celular tocar. Novamente a tela dizia “amor”.
- Bom dia! – Ele atende risonho.
- Gustavo??? Gustavo é você?!?!
- Ora amor, é claro que sou eu, você não vai acredit...
- Seu cafajeste, vagabundo! Você é muito mais ordinário do que eu pensei, nunca imaginei isso de você, seu covarde! Achou que esconderia essa sua segunda família de mim quanto tempo?
- Cristina, o que você está falando?! Você tá maluca e ...
- E nada!!! Eu já sei de tudo, de tudo, ouviu? E só de pensar que isso foi por um deslize seu. Deus é grande mesmo! Está tudo acabado, entendeu Gustavo? Não vai ter mais casamento, mais nada! E some da minha vida!
- Mas Cris ...
Ela desliga e Gustavo fica parado sem saber o que aconteceu. Sem reação, ele se dirige para uma lanchonete a fim de colocar seus pensamentos em ordem, Cristina não atende as suas ligações. E ele que achou que era seu dia de sorte, pois em menos de uma hora conseguiu perder e achar, ou melhor, comprar o seu próprio celular. Ele pálido senta-se na mesa.
- Bom dia, o que vai querer? – Rebeca diz sorridente.
Gustavo descontrolado começa a chorar.
Rebeca, assustada, recoloca o caderninho no bolso. “Primeiro a louca me xingando no telefone, agora isso”.
- Calma senhor, calma, vamos tomar um ar.
Ela leva Gustavo para um banco em frente à lanchonete, ele sente a brisa fria e se acalma. Não consegue falar nada e Rebeca se preocupa com os outros clientes.
- Você está melhor? Quer que eu chame um táxi?
Gustavo só balança a cabeça positivamente, assim que o veículo chega, ele entra sem muita reação. Rebeca fecha a porta e se dirige apressadamente para a lanchonete.
No banco, um objeto vibra.
Rogerinho que passa por lá neste momento, percebe o movimento.
- Caraca! Outro celular! Cara, hoje é mesmo meu dia de sorte.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Pontuada

............Às vezes me pergunto quando chegou o fim.
............Sim, pois eu sou do tipo de pessoa que é pontuada.
............Aliás, tudo em mim é pontuado. Sou cheia de caras e bocas, exclamações, sou cheia de interrogativos, até obter a resposta do que quero. Antes eu era cheia de vírgulas e parênteses, mas recentemente me ocorreu algo que me fez mudar de atitude, aliás, me fez ter atitude. Resolvi que era minha vez de fazer acontecer. Estufei o peito e sem nenhuma pontuação fiz o que me dava na telha para tentar conseguir dobrar outrém, mas o que obtive foram somente reticências...
............O que me fez ficar com mais interrogativas ainda! Ora bolas, não é tão simples não e sim!!! Acho que o dicionário viria a calhar para essa situação, pois ultimamente ouvi muito não que era sim e muito sim que era não (anotado na agenda: comprar um dicionário, entre aspas, embrulhar para presente).
............Mas agora me pego numa difícil situação, serei eu a deixar o caso sem asterisco para explicação posterior? Pois já tentei de todas as formas organizar o fato a fim de um final coerente, independentemente de ser positivo ou negativo.
............Mas e agora? Me dá até arrepio e frio na barriga não ver o ponto ali no final da história.
............E minha mania pontuada?! Ah! Não me aguento com coisas inacabadas, inexplicadas, não ditas.
............Não me aguento em reticências impostas na minha vida...

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Tarcísio

............A frigideira cantava ao som do bacon fritando, ele sentado em sua cadeira, mexia novamente os ovos em seu prato, sem nenhum interesse.
............No quarto, seus pais em gritos estridentes, tinham mais uma conversa daquelas. Sua mãe jogava as coisas no chão, seu pai dava murros no guarda-roupa. No fundo ele torcia que eles polpassem os móveis e se entendessem aos tapas entre si, pelo menos assim, economizariam. Desceu da cadeira e foi ligar a tv, já que sua mãe não estava olhando, poderia assistir comendo mesmo, estava na hora de seu desenho favorito. O interfone toca, era o porteiro reclamando e querendo saber o que era aquele barulho, Tarcísio fala que isso é normal e que já vai acabar, sem se despedir, desliga e tira do gancho, bem como o telefone. Pessoas inconvenientes eram um problema.
............Ele arruma uma almofada e senta bem perto da tv, a ponto de fazer seus olhos arderem. Não tinha ninguém para brigar mesmo. Seu pai sai do quarto e caminha para fora, sua mãe chorando começa a proferir tapas nas costas daquele brutamontes, ele gritando mais que ela pede que ela se cale, ela fica ainda mais histérica. Ele a joga no chão e pelos cabelos a puxa novamente ao quarto. Tarcísio ajoelhado no sofá, vê a cena. "Tomara que dessa vez acabe logo". Olhou para suas pequeninas pernas com vários hematomas roxos e pensou que seu pai era mesmo estranho. Virou para a tv e ficou radiante ao ver que seu desenho ainda estava pela metade. Sentou novamente, com olhos brilhantes.
............Ouviu seu pai jogar algumas caixas no chão, e sua mãe suplicar por alguma coisa que ele não entendia ao certo. Se ele não estava enganado, a arma de seu pai estava guardada por ali, talvez estivesse procurando. Tarcísio pode sentir o cheiro do bacon queimando. "De novo. Só eu cuido dessa casa". Se levantou e foi desligar a panela, bem como colocar ração para o gato, teve que subir em um banco para alcançar a ração em cima da bancada. A porta do quarto de seus pais estava semiaberta.
............Aproveitou e pegou a caixa de cereal, desceu do banco e ficou parado na porta da cozinha observando a cena do quarto, ou um pedaço dela. Via o rosto de sua mãe no chão, mãos em volta de seu pescoço, lágrimas escorriam de seus olhos e suas mãos queriam alcançar a porta, mas logo a vermelhidão de seu rosto passou e ela ficou parada com um tom azulado em seus lábios, os olhos vidrados nos olhos de Tarcísio. "Parece até de boneca", pensou, colocando mais cereal na boca. Seu pai, abriu a porta do quarto, atordoado, em um movimento repentino, colocou a arma contra sua têmpora e atirou. O corpo deslizou vagarosamente pela soleira.
............Tarcísio recoloca o interfone e telefone no gancho, abaixa o volume da tv e se espalha no sofá. "É, dessa vez, acho que acabou bem mais rápido".

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Dois, de amor

Enquanto ela mexia o café, olhava o cabelo dele que precisava de corte. Ele sabia que ela olhava e continuou ignorando, para fazer charme, mas enfim sorriu e levantou o olhar piscando para ela. Tudo naquele momento estava perfeito. E ela suspirou agradecida pelas horas em que tudo se resolvia com beijo. Pessoas são complicadas e era raro encontrar alguém no mesmo compasso. Mas eles se esbarram e se reconheceram em meio ao turbilhão da vida contubada, pois - tanto ele quanto ela - eram espertos. Oportunidades sempre surgem, basta aproveitá-las. Às vezes levar uma vida triste era questão de cegueira. Mas eles eram espertos, por isso felizes. Dois raros que juntos eram um perfeito.
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PS.: Quis que o primeiro post do ano fosse sobre algo bom para alimentar minhas esperanças de que um dia vou conseguir o que eu quero. Tento ser esperta, enfim... :) Quem não tenta?