terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Tarcísio

............A frigideira cantava ao som do bacon fritando, ele sentado em sua cadeira, mexia novamente os ovos em seu prato, sem nenhum interesse.
............No quarto, seus pais em gritos estridentes, tinham mais uma conversa daquelas. Sua mãe jogava as coisas no chão, seu pai dava murros no guarda-roupa. No fundo ele torcia que eles polpassem os móveis e se entendessem aos tapas entre si, pelo menos assim, economizariam. Desceu da cadeira e foi ligar a tv, já que sua mãe não estava olhando, poderia assistir comendo mesmo, estava na hora de seu desenho favorito. O interfone toca, era o porteiro reclamando e querendo saber o que era aquele barulho, Tarcísio fala que isso é normal e que já vai acabar, sem se despedir, desliga e tira do gancho, bem como o telefone. Pessoas inconvenientes eram um problema.
............Ele arruma uma almofada e senta bem perto da tv, a ponto de fazer seus olhos arderem. Não tinha ninguém para brigar mesmo. Seu pai sai do quarto e caminha para fora, sua mãe chorando começa a proferir tapas nas costas daquele brutamontes, ele gritando mais que ela pede que ela se cale, ela fica ainda mais histérica. Ele a joga no chão e pelos cabelos a puxa novamente ao quarto. Tarcísio ajoelhado no sofá, vê a cena. "Tomara que dessa vez acabe logo". Olhou para suas pequeninas pernas com vários hematomas roxos e pensou que seu pai era mesmo estranho. Virou para a tv e ficou radiante ao ver que seu desenho ainda estava pela metade. Sentou novamente, com olhos brilhantes.
............Ouviu seu pai jogar algumas caixas no chão, e sua mãe suplicar por alguma coisa que ele não entendia ao certo. Se ele não estava enganado, a arma de seu pai estava guardada por ali, talvez estivesse procurando. Tarcísio pode sentir o cheiro do bacon queimando. "De novo. Só eu cuido dessa casa". Se levantou e foi desligar a panela, bem como colocar ração para o gato, teve que subir em um banco para alcançar a ração em cima da bancada. A porta do quarto de seus pais estava semiaberta.
............Aproveitou e pegou a caixa de cereal, desceu do banco e ficou parado na porta da cozinha observando a cena do quarto, ou um pedaço dela. Via o rosto de sua mãe no chão, mãos em volta de seu pescoço, lágrimas escorriam de seus olhos e suas mãos queriam alcançar a porta, mas logo a vermelhidão de seu rosto passou e ela ficou parada com um tom azulado em seus lábios, os olhos vidrados nos olhos de Tarcísio. "Parece até de boneca", pensou, colocando mais cereal na boca. Seu pai, abriu a porta do quarto, atordoado, em um movimento repentino, colocou a arma contra sua têmpora e atirou. O corpo deslizou vagarosamente pela soleira.
............Tarcísio recoloca o interfone e telefone no gancho, abaixa o volume da tv e se espalha no sofá. "É, dessa vez, acho que acabou bem mais rápido".

2 comentários:

Giovana Vincenzi disse...

Não escrevi para Nelson Rodrigues, mas deixo recados no blog de Lô Dornela!

Giovana Vincenzi disse...

Ei, moça, muito obrigada pelo comentário lá no Barzinho, viu? :o)

As "pérolas" tão fazendo sucesso! :oD

Beijão!