terça-feira, 30 de setembro de 2008

Desespero

............O padre no meio de seu sermão dizia como a vida era bela e como as boas ações eram importantes. Suzana estava contida, já não tinha forças para chorar.
............Todos estavam chocados com a morte súbita de Rogério, ele era saudável e uma pessoa muito centrada, ninguém queria aceitar o fato dele decidir parar por ali mesmo e ninguém queria perguntar para Suzana o que estava acontecendo nesses últimos tempos.
............O fato era que só Suzana sabia o porque do suicídio do seu marido, ou talvez, ela era a que a menos soubesse. A família e amigos tentavam consolá-la, mas ela parecia estar fora de sintonia, olhar distante, mãos geladas e nenhuma reação. “Ainda bem que não tivemos filhos”, uma das únicas falas que ouviu-se sair da boca dela.
............A noite passou rápida, isso devido aos calmantes que ela ingeriu. Assim que os primeiros raios de sol começaram iluminar a sala, ela abriu a persiana e resolveu tomar um café. Ligou a TV e ficou com a xícara parada na boca.
............“Assim não dá Suzana, não agüento mais essa sua paranóia! Eu não tenho outra, eu não tenho!”, a briga estava acalorada e Suzana com o celular de Rogério na mão berrava descontrolada “Você acha que eu sou idiota? Você vive com essas ligaçõezinhas misteriosas, amizades que eu não conheço direito, saídas súbitas e agora isso? Eu ouvi! E era uma mulher, ela desligou assim que atendi”. A discussão continuou tarde e noite adentro, ela muito nervosa, cheia de desconfiança e histórias mal explicadas, ele muito calmo e com todas as explicações imagináveis. O final era sempre o mesmo, ela após chorar o dia todo era consolada por ele que enfim a convencia de seu amor e que suas dúvidas eram sem fundamentos – apesar de totalmente óbvias -, eles se amavam e isso bastava.
............Bastava sim, até o dia após a última discussão. Suzana teve que sair cedo para resolver um imprevisto no trabalho, na volta encontrou Flávia uma amiga antiga e ficaram conversando durante um bom tempo. Flávia insistiu para a amiga ir a seu Café, conhecer enfim sua empresa, Suzana se encantou com o local, muito elegante e badalado. Mas entre uma risada e outra, para a surpresa de Suzana, eis que ela vê seu marido entrando com uma loira, ela não conseguia piscar. “Lá vai o Rogério, com uma nova biscate do lado”, comentou Flávia que sabia da vida da maioria de seus clientes freqüentes.
............De repente tudo fez sentido para Suzana, as ligações, as desculpas e o excesso de atenção e carinho em algumas ocasiões. Como ela havia sido burra a este ponto? Saiu do Café sem ao menos se despedir de Flávia. No prédio preferiu ir até seu apartamento no décimo terceiro andar pela escada, chorou o quanto pode esperando a volta de Rogério e imaginando como ele e a outra eram na cama.
............Ele chegou em casa relativamente cedo, falando que aproveitou um tempinho de folga para tomar uma cervejinha. Suzana o esperava com o jantar pronto, comeu friamente e encarar Rogério foi fácil naquele momento, mas fácil ainda foi empurrá-lo de surpresa pela janela e a feição dele ao cair foi um prazer incalculável para Suzana.
............Tudo foi resolvido, tudo, com um prazer incalculável.

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