quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Jantar a luz de velas - parte II

(...)
............Desde o início ele sabia que estava perdido ao conhecê-la, pois quando foram se tornando íntimos soube que seria dela para sempre, se casaram após poucos meses que se conheceram. E esse pequeno fato gerou uma discórdia imensa, foram críticas e mais críticas tanto por parte da família quanto por parte dos amigos, resumidamente diziam que era loucura casar com alguém que mal se conhece e que isso era pedir para dar errado. Hoje ele pensava se não deveria ter dado ouvidos a eles, mas logo afastou o pensamento, sentindo-se um crápula por cogitar essa possibilidade.
............Os dias ao lado dela haviam sido maravilhosos. Ela era tímida, porém de sorriso fácil, falava baixo e acanhado, mas era de opinião muito forte, uma mulher pacata com um espírito aventureiro, essa mistura de opostos simplesmente o deixava maravilhado. Assim a vida não era uma rotina, ele sempre se pegava surpreendido por um pedido ou decisão que ela tomava, por mais que tentasse prevê-la ainda não havia conseguido.
............No final do terceiro ano de casamento e com uma grande promoção em seu emprego, resolveram mudar de apartamento, compraram uma cobertura em um bairro bem localizado da cidade. Ela estava radiante, ele feliz por fazê-la assim. Um dos quartos ela separou para uma decoração especial, fazendo mistério, impossível já que era ele que recebia a fartura do cartão de crédito e assim pode ver todos aqueles nomes de lojas relacionados a artigos de bebês. Ele ficou em júbilo com o fato de ser pai, ela não cabia em si. Ele torcia para ser um menino, ela como qualquer outra mãe queria saúde. Os dias agora se resumiam a brinquedos, livros e exercícios especiais, além da decoração do quarto do bebê, para o qual a cada hora aparecia algo novo, basicamente os móveis e objetos maiores eram de cor neutra, deixaram para decidir a cor principal assim que soubessem o sexo, o que nunca ocorreu já que ela sofreu aborto espontâneo no início do terceiro mês. Ele teve que tirá-la a força do quarto, o qual foi fechado a sete chaves após longos dois longos meses de visitas diárias e constantes, ela praticamente morava lá dentro e ele já não suportava mais vê-la definhando. Trancou o quarto após ter colocado uma fechadura especial, para entrar seria necessário arrombar a porta por completo e ele duvidava que ela tivesse forças para pensar nisso.
............Novas férias foram planejadas, Aspen dessa vez. Roupas, bolsas, sapatos, jóias, tratamentos estéticos, fazia tudo para mimá-la o suficiente. Ele decidiu trabalhar menos, ela focou em seu negócio próprio, o que foi uma medida ótima para todos. A empresa era uma franquia de uma famosa boutique feminina, a clientela que se formou foi a melhor possível. Logo estava se destacando no mercado e grandes contatos apareceram, com apenas alguns meses de trabalho ela resolveu criar sua própria marca, tendo como braço direito um design de modas.
............Agora era ela que parava cada vez menos em casa, ele estava satisfeito em tê-la feliz novamente, sua jovialidade estava presente com toda força, bem como o cigarro e a bebida. Grandes reportagens, editoriais, desfiles e eventos foram acontecendo, e cada vez mais ele se via aprofundado no mundo do glamour, com modelos ainda meninas que mal saíram das fraldas andando semi-nuas pelo atelier particular que ela montou em casa. Meninas tão mulheres que ele se assustava, tão charmosas e maliciosas como se fossem totalmente experientes, se insinuavam para ele sem o menor pudor, se exibiam entre uma troca de roupa e outra, caminhavam até a cozinha com os pequenos seios a mostra. Ela não via, ou se via não se dava conta do que estava acontecendo, seu foco era em qualquer nova peça que seu aflorado amigo design a fazia experimentar, sempre ajustando um pouco de tecido entre uma alisada de mão e outra pelo seu quadril ou cintura, aquele amigo tão manipuladoramente sutil sempre acoplado com seus enfeites de linha e agulha. Logo eram evidentes as medidas desregradas, as horas invertidas e as drogas demasiadas, tudo de forma tão natural que ele começou a se perguntar se já não estava velho demais. As brigas entre os dois começaram de uma forma intensa, ela reclamava da falta de apoio e atenção, dizia que ele se tornava sisudo e careta, ele não aceitava a nova vida que ela levava, vadia e sem limites.
............O toque do telefone o fez voltar ao presente, acordou, mas não quis atender, olhou ao redor, tudo agora era tão escuro e vazio. Sentado na cadeira, rolava uma maçã de uma mão para outra. Tentou se recordar quanto tempo durou aquela fase, e o que vinha em sua mente era somente os seios nus e risadas fáceis das lindas ninfetas e da mão macia do design se enroscando no quadril de sua esposa.

(CONTINUA)

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